segunda-feira, 14 de julho de 2008

É possível

O que conheci de Ruth Cardoso, considero pouco. Lembro-me do projeto Universidade Solidária (é esse o nome????"), dos amigos que dele participaram e suas narrativas.
Mas, no episódio de sua morte, vi uma entrevista na qual ela dizia não ter dúvida de que a mulher é uma das maiores oprimidas do mundo bem como é a maior transformadora em potencial da realidade.
Tenho sorte de estar em grupo de mulheres que se orgulham desta condição e que buscam diarimente honrá-la. Conheço muitas outras ainda bem feridas e dominadas pelo machismo e que acabam por reproduzi-lo.
Penso que, obviamente, todos e todas somos machistas, uns mais e outros menos, simplesmente porque herdamos uma cultura extremamente machista. Mas é delicioso o exercício de rompimento.
Sim, somos os maiores potenciais de mudança que o mundo possui, não tenho dúvida também. Penso em como eu e minhas amigas criarão os filhos e filhas. Fico avaliando o como crescemos profissionalmente e o que considero mais trabalhoso: como crescemos em nossos relacionamentos afetivos (família, companheiros-a). Crescemos sem, para isso, alimentar outro ismo.
E fico, especialmente, feliz, quando pude conferir os passos que mulheres davam quando encontravam-se mais apoiadas e seguras, mulheres que possuem seus filhos e/ou filhas abrigados(as), mulheres com relacionamentos afetivos destrutivos.
Em uma lógica capitalista e perversa, é preciso apoiar, é necessário estar junto porque crescer e transformar o mundo é possível, aliás é bem possível. E para acabar esse rápido devaneio, junte-se a nós, Lya Luft e seus saberes: "Pensar é transgredir".

Ismos

Fico pensando como os "ismos" tiram o sabor natural das coisas.
O gesto de perfumar uma casa para que alguém, depois de um dia exaustivo de trabalho, entre e sinta seu espaço agradável, amável, é tão carinhoso. E é tão bom receber como fazer.
E, assim, a ausência um dia, desse gesto, por motivo qualquer, pode até ser celebrado como a percepção do quanto é importante e especial. Mas quando a percepção justifica o aparecimento do "ismo", deixando vir à tona cobranças, o carinho perde o sabor natural porque nele é pregado um rótulo chamado de obrigação. Tudo muda.
O "ismo" faz mal tanto a quem recebe como quem o usa. O peso da obrigação em lugar da naturalidade do carinho fere aos dois, três, quantos lados forem. Esse peso está lado a lado de auto lembranças como "se não fizer, vai ter briga", "se não acontecer, cobranças" e se alia também a pensamentos aliviadores "farei porque a pessoa está cansada, coitada". Diferente, diferente, das sensações: "vou fazer para que a beleza e o prazer o encontrem", "que bom fazer isso porque essa pessoa merece tanto e teve uma jornada dura hoje".
Um passo para que quem usa o "ismo" encontre também mudanças, cobranças de agradecimentos, de provas de afeto, de climas desfavoráveis. A ilusão de que o poder que confere o ismo é maior, faz ser menor a quantidade dos pequenos prazeres da vida. E eles são o sustentáculo da vida, não tenho dúvida.

De novo! De novo!

No dia 21 de junho foi o sexto aniversário de uma criança linda, cheia de luz, de nome Maurício e que o chamo de Maurício sô sô, uma musiquinha que inventamos quando ele ainda era bebê. É uma criança levada da breca, carinhosa, muito carinhosa e, ressalte-se de novo, danada!

O primeiro presente que lhe dei foi um livro de banho, esses livrinhos de plástico, tipo bóia e daí não paramos mais.

Em maio ele me disse: "Tia, faz tempo que você não me dá um livrinho, não é?". Dá para resistir a esse encantamento? E dá muito orgulho de perceber que ele é uma criança interessada em livros.

Um dia desses, estava com dois livrinhos trazidos por sua mãe, um sobre as obras de Tarsila do Amaral, com reproduções infantis dos quadros, e um de poemas de Vinícius de Moraes. Ele pede para ler com os olhos transbordando de felicidade, lemos umas quinhentas vezes (De novo! De novo!), ele memoriza a história e passa a "ler" o livro, com toda a liberdade infantil de criação.

Ama os livros da turma do Cocoricó e ganhou mais alguns de presente de aniversário.

Esse gosto pela leitura lhe dará a oportunidade de outra leitura: a de mundo.

Que continue sendo abençoado, que o sorriso lindo, meigo floresça sempre, que haja sempre doces beijinhos de jerimum e livrinhos, muitos livrinhos.