domingo, 4 de julho de 2010

Luz

Na semana passada assisti o filme "Sempre ao seu lado" com Richard Gere.
O amigo que me emprestou disse que eu choraria, com certeza. Brinquei, falseando que meu coração era de pedra e aceitei a sugestão.
Confesso que subestimei o filme, imaginando... ah, tá bom é mais um daqueles que conta a história de uma amizade com um cãozinho, como sempre, muito leal, que acaba sozinho pelos incalços da vida. E assim, óbvio choraria mais uma vez.
Preciso dizer que me dei mal?
É uma das histórias mais lindas de amor que já 'presenciei' (agora peço licença para dizer que estou com saudades do Saramago e o amor de O memorial do Convento é único, incrível....).
Voltando ao filme. Hachi, o cão Akita, é amigo e isso não é tão simples assim, é raro. E o filme conseguiu abordar esse encantamento.
Outra confissão: passei dias triste e muito pensativa sobre o amor que os animais nutrem por nós.
Não poderia deixar de relembrar Saint Exupery quando, em o Pequeno Príncipe, diz "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas".
Há uns dois meses, conseguimos salvar um cachorrinho que foi batizado com o nome Luz.
Ele estava todo machucado e tinha algo que nunca vi: vermes comendo sua pele, a tal de bicheira....
Pedimos ajuda à veterinária amiga e passamos dias cuidando, uma verdadeira aventura, já que ele fugia de nós, com medo que o machucássemos e depois com medo do remédio spray.
Uma amiga resolveu acolhê-lo para que quando estivesse curado, tentássemos encontrar alguém que o merecesse e o adotasse.
Um mês depois, Luz estava lindo, feliz e muito carinhoso com todos nós. Minha mãe fez uma visita especial e ficou encantada... E minha amiga e o companheiro já haviam decidido que eles mesmos o adotariam.
Luz gostava da liberdade e começou a escavocar a terra do quintal para ter uma passagem para a rua e dar suas voltinhas.
Alguém o viu e se "interessou". Interesse estranho, essa pessoa não procurou pelos meus amigos, apenas comentou com vizinhos que iria "roubá-lo".
Um dia, Luz desapareceu. Procura-se, procura-se e nada. Um vizinho relembrou o tal interessado e disse que Luz poderia estar preso no quintal dele.
Meus amigos foram até lá e o encontraram.
O quintal tinha cerca de arame farpado. E Luz se enforcara ao tentar voltar para casa.
Meus amigos deram-lhe o último carinho, enterram-no.
Demorei para falar de Luz. Achei que seria um conto feliz, mas demorei demais e, nesse momento, a dor fala mais alto.
Lembro do tamanhão dele, do seu fucinho grande e doce.
Lamentei não ter uma casa, ainda, com quintal grande, com mato, com Ipê, Jasmim e Cerejeira para que ele pudesse estar lá.
Estamos sem Luz.

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