Nessa última segunda-feira, caminhando pela Avenida Paulista, mas não com muita pressa não... que não sou dada a essas coisas, vi um tumulto em meio do trânsito.
Manu que estava comigo enxergou antes: um cachorrinho atropelado!
A pessoa (se é que pode ser chamada assim) que o atropelou foi embora, mas o motorista de trás (que honra o título de pessoa) não conseguiu prosseguir e saiu do carro. Ainda chamou a ajuda de um policial que estava em ronda, mas este se recusou. Sozinho, pegou o bichinho no colo e o levou à esquina.
Desumanidade. Humanidade. Gostaria que o vice versa ganhasse mais força.
Em volta do cachorrinho um grupo de pessoas. Todos e todas perplexos, sentindo-nos impotentes. Uma moça acariciava o bichinho, o rapaz tentava recuperá-lo. Em meio a nós, um outro rapaz se aproximou, viu o bichinho e correu para perguntar a um taxista se havia algum(a) veterinário(a) próximo(a). Ele não sabia. Lembrei de uma ong de defesa aos animais que estava fazendo um trapalho no Casarão da Avenida Paulista, corremos até lá, nada feito.
Na nossa volta, o bichinho já tinha morrido. A perplexão era contínua. Lágrimas, desolação.
A defesa da vida dos animais é garantida para a própria defesa da raça humana. É o que o Direito consagra e acertadamente, ao meu ver.
Essa defesa é da dignidade que tem haver com compaixão, ou seja, pôr-se no lugar do outro, solidariedade, companheirismo.
Alguém que atropela um animal e negligencia é o mesmo alguém que, tendo oportunidade, foge, se atropelar um ser humano. É assim porque é assim. Ponto. Até aqueles ou aquelas cujo olhar para a vida é cético não duvidam do que o olhar de um animal diz, em especial o cachorro pela preferência nacional. Esse olhar pode dizer amor, carinho, medo, dor, raiva, solidão, tristeza, saudade, felicidade... Sentimentos tão humanos.
Quem "atropela" esses sentimentos está fazendo o quê? Com quem? Com um cachorro "apenas"?
A cena foi muito triste mesmo. Entendo que Oyà recebeu o cachorrinho e está cuidando dele.
Por outro lado (acho que ler muito Rubem Alves dá nisso), a morte revela a vida e, neste caso, teve também um lado bonito. Todas aquelas pessoas que ficaram ali, que pararam seus passos paulistas e foram dignas, solidárias e companheiras daquele animal, deixando um gesto bonito.... também para a Humanidade.
Espero que mais animais possam ser adotados, independente da raça, do pedigree. O ser humano tem muita dificuldade em entender que é descendente de uma mesma raça: a humana e assim cria subdivisões para si, estendende-as com valor social aos animais, é muita loucura mesmo. Mas existe quem pensa e age diferente.
Axé
2 comentários:
Bonito o gesto das pessoas, em meio oas individualismos nossos, mas acho que a sociedade brasileira no modo geral deveria se preocupar com a população animal que cresce desenfreadamente: não há um programa efetivamente forte de castração, de recolhimento dos animais nas ruas, de vacinação. Depois o que vemos é isso, animais sendo atropelados, animais abandonados nas ruas, animais que podem transmitir raiva.
Pois e', o comentario do rsm agora me ajuda a entender porque e' que eu sinto tanta raiva desse mundo. Deve ter sido algum desses animalitos que me contagiou. A historia me fez lembrar do Eduardo Dusek (ainda ta' vivo? Noticias, por favor). E tambem me fez recordar de um episodio que aconteceu aqui no bairro anteontem. Faz ja umas duas ou tres semanas que eu vejo em cada poste, em cada arvore, um papel A4 com o xerox simples de uma foto de um gato preto e branco que se perdeu, chamado "Couscous", e o telefone do dono/dona. A insistencia da pessoa me chamou a atencao. Eu ja tinha ate' chegado a pensar nos milhares de dolares que eu pediria como recompensa, e no que eu faria com o dinheiro em seguida. Numa noite dessas ultimas, voltando pra casa com fome, e com preguica de fazer comida, entrei numa loja de conveniencia e comprei o que tinha de melhor ali: uma batatinha chips (imagine o que tinha de pior). abri o saco, sentei na sarjeta por um tempo pra pensar na vida, e de repente vi um gatinho bem parecido ao da foto se aproximando, aparentemente com fome. Ofereci educadamente a batatinha ruffles que eu comia, mas percebi que o bichano tinha bom gosto e recusou. Fiquei meio cabrero (porra, ta com fome ou nao ta'?) e a partir dai' comecei a chama-lo pelo apelido carinhoso de "cuscusao". Como o figurinha era branco e preto, tal como na foto, liguei pro numero indicado (se fosse alviverde ou tricolor, e' claro que eu nao daria a minima praquele ser-vivo). Eu esperava que fosse uma velhinha desesperada, mas nao, atendeu um cara de meia-idade, que em uns dez minutos apareceu. Ele pegou o gato no colo. Olhou, analisou e no final disse: ja vi esse gato umas tres vezes, ele ate' que e' bonitinho, mas nao e' ele que eu to procurando. E, pacientemente, explicou: veja aqui: o meu tem uma pinta no queixo, e esse aqui tem uma pinta no nariz (ou vice-versa, minha memoria nao da' pra tanto detalhe besta). Eu pensei comigo: ah, que frescura e' essa, mano, leva esse ai' mesmo e arranca esses cartaz, chega de drama, gato e' tudo igual... mas o ingles faltou na hora, eu acabei nao dizendo nada, e o maluco foi embora... Final da historia: o gato que procurava uma assistencia chamada sardinha (ate onde eu sei, gatos nao procuram donos) continuou por ali, e o dono que procurava o gato voltou pra casa com mais uma expectativa frustrada. E eu, que nao nasci pobre nem livre, me mandei do cenario e tb larguei o cuscusao ali 'a propria mingua. Agora pergunto em tom de quem quer um conselho: se eu encontrar ele de novo, o que e' que eu faco? Pra quem eu tento passar a bola dessa vez? Posso botar numa caixinha e mandar por sedex?
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