Tive a oportunidade de participar como leitora crítica da campanha 120 anos de abolição, encabeçada pela Secretaria de Cultura do Governo do Estado de São Paulo, com o objetivo de confirmar se o racismo existe ou não no Brasil e quais as histórias de superação e valorização da negritude . A população foi chamada a participar ou pela internet (www.120cartas.ig.com.br) ou por meio de cartas, urnas foram espalhadas pelo Estado afora. Foram mais de dois meses de "escuta" e os limites foram quebrados, uma vez que recebemos cartas e postagens do Brasil inteiro e até de brasileiros e brasileiras que residem no exterior.
Foi uma chance sem igual.
A princípio, posso falar de dados objetivas: a dificuldade de dominar minimamente o português junto com a dificuldade absurda que a realidade brasileira impõe aos negros e aos "mestiços em geral" de sobreviverem e de auto-conhecerem.
Também posso observar como a educação insiste em "transferir" equívocos graves que colocam a população negra em desvantagem secular, como exemplo, inúmeras odes à Princesa Isabel que, com todo o respeito, quem foi, o que fez mesmo? Lamento profundamente imaginar, mas respaldada em indícios fortes, que usaram uma mulher para assinar o que o Brasil lamentaria "a lei aúrea", pois um homem recusaria tal papel. Para reforçar isso é só olhar para o lado: uma lei que liberta da escravização para jogar vidas humanas a mercê da política de genocídio que vemos até hoje: a maior parte dos jovens mortos é negra, a maior parte da população desempregada é negra e etc.
Voltando a falar em transferência de equívocos conceituais demonstrados pelas cartas, aparece a tal de democracia racial. Se você acredita em democracia racial no Brasil, amigo ou amiga, afirme-se racista, confronte-se com isso, ainda que doa. Pois ou você acredita em uma política de exclusão racial que exclui negros, negras (e os pardos, utilizando termos conhecidos pela população) e política tem a ver com sistema, com estrutura política encontrada em escolas, hospitais, fóruns, delegacias, na atuação da polícia, carceragens e etc ou você acha que a parcela negra da população só cresce em função de esforço pessoal. E, ainda, se acredita mesmo nisso: assuma: você acha que o crescimento é meramente fruto de esforço pessoal e se a população negra está no pólo da exclusão.... é por causa do quê então? Olhe-se e se encare.
O que é democracia? O que é democracia racial? Negros, negras e mestiços (independentemente de sua identidade étnica) têm as mesmas oportunidades oferecidas aos brancos e brancas? Não se trata aqui de falar contra brancos e brancas individualmente (o que seria racismo) e sim de falar sobre um sistema político de exclusão que beneficia poucos em detrimento de muitos, sendo que tanto esses poucos e esses muitos podem nem saber, ao certo, falar desse sistema de apartheid, sentido na pele ou para o gozo ou para a dor. E essa ignorância do tema é fundamental para alimentar o próprio sistema.
O que você acha?
Até a parte 2!
Foi uma chance sem igual.
A princípio, posso falar de dados objetivas: a dificuldade de dominar minimamente o português junto com a dificuldade absurda que a realidade brasileira impõe aos negros e aos "mestiços em geral" de sobreviverem e de auto-conhecerem.
Também posso observar como a educação insiste em "transferir" equívocos graves que colocam a população negra em desvantagem secular, como exemplo, inúmeras odes à Princesa Isabel que, com todo o respeito, quem foi, o que fez mesmo? Lamento profundamente imaginar, mas respaldada em indícios fortes, que usaram uma mulher para assinar o que o Brasil lamentaria "a lei aúrea", pois um homem recusaria tal papel. Para reforçar isso é só olhar para o lado: uma lei que liberta da escravização para jogar vidas humanas a mercê da política de genocídio que vemos até hoje: a maior parte dos jovens mortos é negra, a maior parte da população desempregada é negra e etc.
Voltando a falar em transferência de equívocos conceituais demonstrados pelas cartas, aparece a tal de democracia racial. Se você acredita em democracia racial no Brasil, amigo ou amiga, afirme-se racista, confronte-se com isso, ainda que doa. Pois ou você acredita em uma política de exclusão racial que exclui negros, negras (e os pardos, utilizando termos conhecidos pela população) e política tem a ver com sistema, com estrutura política encontrada em escolas, hospitais, fóruns, delegacias, na atuação da polícia, carceragens e etc ou você acha que a parcela negra da população só cresce em função de esforço pessoal. E, ainda, se acredita mesmo nisso: assuma: você acha que o crescimento é meramente fruto de esforço pessoal e se a população negra está no pólo da exclusão.... é por causa do quê então? Olhe-se e se encare.
O que é democracia? O que é democracia racial? Negros, negras e mestiços (independentemente de sua identidade étnica) têm as mesmas oportunidades oferecidas aos brancos e brancas? Não se trata aqui de falar contra brancos e brancas individualmente (o que seria racismo) e sim de falar sobre um sistema político de exclusão que beneficia poucos em detrimento de muitos, sendo que tanto esses poucos e esses muitos podem nem saber, ao certo, falar desse sistema de apartheid, sentido na pele ou para o gozo ou para a dor. E essa ignorância do tema é fundamental para alimentar o próprio sistema.
O que você acha?
Até a parte 2!
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