E por falar em Democracia Racial, será que vivemos realmente em um país que goza desse mistério?
Tenho certeza que não. E isso ficou nítido nas cartas que escolhi para falar agora: as centenas de cartas das crianças de todo o Estado de São Paulo.
A expressão das crianças brotou em palavras, em desenhos, na mistura desse dois, mas foi além, brotou como se estivesse diante de cada uma delas, enquanto lia.
Infelizmente, preciso chamar atenção mais uma vez sobre os equívocos educacionais que marcam os indíviduos e, em especial, negros(as), mestiços(as), indígena. Em uma das cartas, o adolescente desabafava: "não tenho orgulho de ser quem sou, a história do negro me dá vergonha". Talvez se tivesse tido o direito respeitado de saber de suas origens, teria sim, muito orgulho ao contar sobre a ciência do povo negro que fora escolhido para ser escravizado não por uma suposta fraqueza, ao contrário, por seu conhecimento (agricultura, mineração) que construiu o Brasil.
E houve, mais uma vez, várias odes à Princesa Isabel.
Outro adolescente narrou que reconheceu o que já percebia, o racismo, no ambiente de trabalho. Notou que as pessoas o tratavam diferente e analisou que deveria ser preconceito em relação à sua religião, a umbanda. Até que o gerente incomodado confidenciou: Sabe o que é, você tem todos os "defeitos": é preto, gordo e macumbeiro. O adolescente prossegue, nos contando que guardou isso para si até o momento da campanha.
As crianças superaram qualquer expectativa, pois provaram sua percepção da realidade. Uma delas contou que seu pai é racista e quando ela está na rua brincando com suas amigas e amigos negros, ele chega a começa a gritar. Ela, envergonhada e triste, tranca-se no seu quarto. Diz eu gosto dos negros. Meu avô é negro e eu e meu primo apostamos corrida para ver quem chega no colo dele primeiro. Ele é negro e eu me sinto feliz. Ele me deu minha família.
Outra confidencia: Eu tenho a pele branca e a boca e os cabelos de negro. Eu me acho bonita. Minha mãe também me acha, diz que puxei meu pai e que sou mais negra do que branca.
E muitas cartas de crianças denunciando o racismo no ambiente escolar, da sala de aula ao parquinho da pré-escola: a violência cotidiana das predileções, dos apelidos humilhantes, da quase ausência de apoio efetivo.
E nessa semana festiva do dia da Consciência Negra (salve, Zumbi!) está nos noticiários o caso envolvendo Dudu Nobre, Adriana Bombom e os tripulantes da American Airlines.
Há Democracia Racial em nosso país?
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
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